“Cada um puxa a brasa para sua sardinha, como dizia minha mãe. Mas pra mim, não tem outro. Aqui, o bairro das Nações é um dos melhores. Eu gosto muito daqui, é um bairro que cresce muito”, conta uma moradora com 50 anos de vivenciando o bairro das Nações.

E realmente, Dona Araci Mendes, conhecida como Vó Sissi, cada um puxa para o seu lado — mas que o bairro é importante e bem localizado, disso não há como discordar.

O bairro das Nações conta com pontos importantes que ajudam a contar a história de Balneário Camboriú, desde o tempo das carroças até a construção de um dos principais pontos turísticos da cidade: o Cristo Luz. É também o bairro que abriga a Prefeitura Municipal e, se não bastasse, é o segundo bairro mais populoso da cidade — quase 21 mil pessoas escolheram a localidade para morar e se sentir em casa.

“Fizeram uma estradinha de barro lá… Para levar aquelas coisas lá para cima era muito complicado. E aquilo lá virou turismo, porque todo mundo queria saber o que ia sair lá, como ia ficar… e era muito legal”, relembra Vó Sissi, ao falar sobre as expectativas que cercaram a construção do monumento.

foto: divulgação/pmbc

O Cristo Luz de Balneário Camboriú tem 33 metros de altura, foi inaugurado em 1997 e está no alto da cidade, abençoando e iluminando moradores e turistas com diferentes colorações. Os moradores do bairro das Nações têm carinho e orgulho pelo monumento ter sido construído na região e por ter impulsionado o desenvolvimento local.

“Para nós, é uma sensação de orgulho ter o Cristo Luz dentro do nosso bairro. Era um sentimento compartilhado por todos. Não tinha quem não dissesse isso”, destaca o morador Artaleto da Silveira, o Leto, que reside há 55 anos no bairro.

De onde surgiu a ideia de construir o monumento?

O idealizador do projeto de construção do Cristo Luz — obra que levou 300 dias para ser concluída — conta de onde surgiu a ideia de criar o primeiro ponto turístico não natural da cidade.

“Eu sempre olhava para o morro e achava que ele estava meio abandonado. Via que dava para fazer um cartão-postal, mas a ideia era fazer um monumento, algo que marcasse a cidade”, conta Mário Luiz Pretto, fundador do projeto.

Ele comenta que a intenção era, de fato, construir um monumento que se tornasse um cartão-postal para Balneário Camboriú. A decisão pelo Cristo surgiu após conversas com pessoas ligadas a igrejas da cidade. No início, ele relembra que pensou em fazer a imagem de “Santa Catarina”, a santa que dá nome ao estado — o único do Brasil a homenagear uma mulher.

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“A Santa Catarina estaria muito voltada apenas ao catolicismo, né? E a ideia não era criar um ponto com cunho unicamente religioso, mas sim turístico”, destaca Mário.

Foi a partir dessas conversas que surgiu a ideia do “Cristo Sol”: um monumento com o braço espelhado, para refletir os raios do sol e iluminar a cidade. “Na primeira concepção, a ideia era fazer um sol no braço. Se o sol batesse certinho, os raios se refletiriam no espelho e iluminariam a cidade. O nome era Cristo Sol”, explica.

No entanto, o empresário percebeu que a proposta não funcionaria, pois, com o tempo e a exposição à chuva, o espelho ficaria opaco e perderia o reflexo. “Então criamos esse esquema de luz. Descobrimos uma forma potente de fazer esse derramamento de luz sobre a cidade. E aí só trocamos o nome: de Cristo Sol para Cristo Luz”, completa.

A escolha pelo Cristo está gravada na memória do empresário, que fala com carinho do monumento — um dos principais cartões-postais da cidade nestes 61 anos de história. “Ele dá essa vida, esse simbolismo do sol, com esses raios jogando luz para a cidade, essa energia… essa luz para os moradores e para os visitantes”, resume.

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Mesmo com 27 anos de existência, o Cristo Luz continua sendo motivo de orgulho para os moradores do bairro das Nações. “Só perdia para a praia, digamos assim. O Cristo Luz, na época, só ficava atrás da praia, que era o nosso carro-chefe. Mas ele se tornou o segundo ponto turístico da cidade. Nós, do bairro das Nações, tínhamos o nosso ponto turístico”, comenta Leto.

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O historiador Bola Teixeira relembra o dia da inauguração do monumento e conta como as ruas e avenidas ficaram lotadas na expectativa de conhecer o novo atrativo. “A inauguração parou a cidade. Lá em cima estava lotado de gente, e não deu para todo mundo subir. Eu lembro que fiquei aqui embaixo, e a Avenida do Estado estava cheia”, relata.

Entre Nações e memórias

O bairro das Nações, como o nome indica, é formado por ruas com nomes de países — Uganda, Paraguai, México, Panamá e muitos outros. Para quem mora ali, essa característica traz ainda mais charme à região. “Criei minha família inteira ali. Hoje, o bairro e essa cidade são a minha paixão”, afirma Leto.

“O nosso bairro é muito calmo, muito sossegado. A vizinhança, para mim, é tudo. Nossa, não tem explicação”, resume Vó Sissi, ao destacar a tranquilidade do local. Ela também relembra como era a região quando chegou ali, aos 22 anos, para morar com o marido, quando o local ainda era chamado de “Praia de Camboriú”.

“A gente, quando veio morar aqui, o bairro era tudo mato. A gente passava por aquelas valas de água… Agora acabou tudo, está tudo bonito”, recorda.

Presos às memórias, os moradores relembram um bairro com estradas de chão batido, onde era comum ver carroças. Leto lembra com orgulho que seu pai era freteiro e transportava esterco de Camboriú para os condomínios da cidade, que o usavam como adubo.

Na época, não havia padarias no bairro das Nações, mas o pão chegava de forma inusitada. “O bairro tinha muitos carroceiros. Padaria a gente não tinha, mas passava uma charrete daquelas fechadas, vendendo pão de casa em casa”, conta Leto.

Ligado ao esporte, ele conta que um dos locais mais marcantes do bairro era o antigo Campo da Lomba, onde jogava bola quando criança. “Quem é morador antigo teve a infância toda no Campo da Lomba. Praticamente 15 anos da minha vida eu passei curtindo os domingos ali. Era o nosso divertimento”, relata.

Outro espaço querido pelos moradores era o campo de futebol das Nações, que tinha uma lagoa formada por uma nascente. “A gente tomava banho ali. Jogava bola, depois caía dentro da lagoa. Ah, aquilo ali é a minha vida”, diz Leto, com emoção.

O bairro das Nações é carregado de histórias — de lutas, de conquistas, de memórias afetivas. Quem vive ali guarda no coração mais do que um endereço. Guarda um lar.

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Source jornaltribuna

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