Por Dra. Francyne Elias-Piera

O nono dia da COP30 foi marcado por discussões profundas sobre oceanos e florestas, reforçando a importância desses dois sistemas no enfrentamento da crise climática. Um dos destaques foi a apresentação da Carta de Belém, um documento construído a partir de uma ampla consulta internacional que reúne recomendações para integrar a pesca e a agricultura nas estratégias de combate às mudanças do clima. A carta mostra que esses setores, quando manejados de forma sustentável, podem se tornar aliados importantes na segurança alimentar, na resiliência das comunidades e na redução de impactos ambientais.

As conversas também avançaram no campo da inovação e das parcerias necessárias para fortalecer a economia sustentável do oceano, com a ideia de que ciência, tecnologia e comunicação precisam caminhar juntas para transformar a relação da sociedade com o ambiente marinho. Foi reforçado que o oceano não é apenas um ecossistema afetado pelas mudanças do clima; ele é parte central das soluções, desde que mantido saudável.

Outro ponto relevante foi o lançamento de um relatório que analisou a presença de microplásticos em organismos filtradores como mexilhões, ostras e sururus ao longo da costa brasileira. Os resultados mostraram grande acúmulo de microplásticos nesses animais, gerando um alerta sério para a segurança alimentar humana e para o equilíbrio dos ecossistemas marinhos. Como esses organismos já estão estressados por fatores como aquecimento, acidificação e poluição, a presença adicional de microplástico reduz ainda mais a capacidade de resistência deles e aumenta a vulnerabilidade das cadeias alimentares.

Uma novidade importante foi o reforço do governo brasileiro à agenda “Oceano Sem Plástico”. O Ministério do Meio Ambiente, em parceria com outros ministérios reiterou o apoio ao Projeto de Lei 2524/2022, conhecido como PL Oceano Sem Plástico. O projeto, considerado prioritário pelo MMA, busca enfrentar a poluição plástica marinha com medidas estruturantes e nacionais.

Além disso, foi destacada a implementação da Estratégia Nacional Oceano Sem Plástico, instituída por decreto em 1º de outubro de 2025. Essa estratégia define eixos de ação, metas e diretrizes para enfrentar a poluição marinha em toda a sua cadeia, da produção e consumo ao descarte, reciclagem e logística reversa.

Ao longo do dia, ganharam força também as discussões sobre estratégias de captura e estocagem de carbono, fundamentais para alcançar emissões líquidas negativas. O oceano foi apontado como peça-chave nesse processo, especialmente pela ação da bomba biológica de carbono, mecanismo pelo qual o fitoplâncton sequestra dióxido de carbono e transfere esse carbono para o fundo marinho, garantindo o armazenamento por longos períodos. A preservação dos ecossistemas oceânicos, portanto, é determinante não apenas para a biodiversidade, mas para a própria estabilização do clima.

O balanço geral do nono dia deixa claro que não existe solução climática viável sem integrar oceano e floresta em políticas públicas, pesquisas científicas, decisões diplomáticas e ações nacionais. Os dados, anúncios e alertas convergem para a mesma mensagem: proteger os sistemas naturais que regulam o planeta é a condição mínima para enfrentar a crise climática de forma realista e eficaz.

Dra. Fran é fundadora e Presidente do Instituto Gelo na Bagagem, influenciadora digital, especialista em ecologia polar e ESG ambiental. Atua na formação de professores, criação de conteúdos educativos e palestras sobre Antártica, mudanças climáticas e oceanos.

O post Nono dia da COP30: oceanos, florestas e o alerta do lixo no mar apareceu primeiro em Business Feed.



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