Os grandes prédios e arranha-céus de Balneário Camboriú são apenas a moldura distante de um bairro que ainda preserva características típicas de municípios do interior, como aquele contato direto entre os vizinhos. Com pouco mais de 6 mil moradores, o bairro Nova Esperança é o sétimo mais populoso da cidade, uma região que cresce a cada ano, porém sem perder a sua identidade.
Clair Sauter tem 61 anos, a mesma idade de Balneário Camboriú. Dos seus 61 anos de vida, os últimos 38 foram residindo na Rua Juvêncio Delfino da Silva, uma das principais do bairro Nova Esperança. Sabe aquele ditado: “quando eu cheguei, tudo aqui era mato”? Essa frase representa bem como era o Nova Esperança quando Clair chegou ao bairro.
“O que tinha no bairro era três casas aqui na rua, as cabanas do Candeias e mato, né? O resto era tudo março. Ali na rua José Alves Cabral tinha o mercadinho da Dona Maria, do Seu Pedro Reis, tinha uma lojinha do irmão Zeca e a escola Ruizélio Cabral, era o que tinha”, recorda a moradora.
Se hoje os condutores reclamam do trânsito intenso, principalmente nos horários de pico, na Rua Edgar Linhares, principal via de entrada e saída do bairro, antigamente ir até a BR-101 era quase uma aventura, passando em meio a uma área de matagal. “Era mato fechado, só passava empurrando a bicicleta pelo carreiro”, lembra Clair.
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Mas o fato é que o Nova Esperança cresceu e se tornou um dos bairros mais importantes da região sul de Balneário Camboriú. Novos moradores foram chegando, comércios se instalando e a estrutura de serviços públicos também acompanhou esse crescimento, com a construção de escolas, creches, unidade de saúde e até um campus da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), que inclusive completou 15 anos de atividades neste ano.
A única exceção é a escola estadual Ruizélio Cabral que, apesar das mudanças ao longo dos anos, está no bairro desde meados de 1953, quando a estrutura foi transferida para a casa da professora Doralice Bernardes, onde atualmente está situada a Rua José Alves Cabral. A professora mais tarde se tornaria nome de rua no bairro.
Apesar do crescimento, algumas características que não se encontram no verticalizado centro da cidade seguem vivas. Para o atual presidente da Associação de Moradores do bairro Nova Esperança, Juliano José Vieira, esse contato próximo entre vizinhos é a parte mais especial do bairro.
“A gente ainda consegue ter esse contato com os vizinhos, essa interação, essa conversa no dia a dia, se conhecer, cumprimentar, levantar a mão, chamar pelo nome, olhar para o outro, um cuidar do outro, zelar pelo bem, pelo bem material do outro, pelo bem pessoal do outro. Acho que essa é a parte mais importante do bairro para mim: essa interação entre os moradores, entre a comunidade. Esse calor humano, acho que é o mais legal que ainda temos”, destacou.
Nas conversas com Clair, José e outros moradores do Nova Esperança, a segurança foi apontada como uma das grandes qualidades do bairro. O presidente da Associação de Moradores também comemorou a solução para um problema que durante anos gerou transtornos à comunidade: o mau cheiro oriundo da Estação de Tratamento de Esgoto da Emasa.
“Acho que é o que todos os moradores gostariam, que isso (mau cheiro) nunca mais voltasse ao bairro. No começo do ano, ainda tínhamos bastante, mas agora, com o trabalho do Sr. Auri Pavoni, foi praticamente eliminado. A gente tem medo do futuro, porque já aconteceu, em outros governos, de eliminar e, de repente, voltar. E agora, neste momento atual, depois de alguns trabalhos da atual gestão, o mau cheiro praticamente zerou.

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O mau cheiro, que por anos foi uma reclamação, hoje é visto como algo que os moradores do Nova Esperança nunca mais querem enfrentar. Mas será que existe o risco de o problema retornar? De acordo com o diretor-geral da Emasa, o mau odor é coisa do passado.
“Não creio que volte. Em primeiro lugar, nós estamos construindo um (tratamento) primário que é melhor do que o que temos atualmente, e vamos mudar o tratamento de esgoto de lagoa para tanque. Vamos trabalhar com ultrafiltração — um tratamento bem mais moderno, bem mais eficiente. Ele não vai ter o risco de rompimento de manta e será muito mais seguro do que o modelo atual.
Um bairro sem o mau odor dos anos passado, em crescimento constante e onde os vizinhos se conhecem, conversam e se ajudam, esse é o Nova Esperança, um pedaço importante da história dos 61 anos de Balneário Camboriú.


