“A água não é uma questão ambiental, mas uma questão de segurança econômica dos municípios. Sem água, que é a matéria-prima de tudo, não existe economia no município, não existe construção civil, não existe comércio, não existe nada funcionando”, afirmou o presidente do Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio Camboriú e Bacias Contíguas (Comitê Camboriú) e mestre em oceanografia, Paulo Ricardo Schwingel.
O assunto veio à tona durante entrevista à Rádio Menina sobre o Parque Inundável Multiuso da Bacia no Rio Camboriú, que tem como objetivo resolver o problema hídrico que as cidades de Camboriú e Balneário Camboriú enfrentam. No entanto, a proposta do projeto foi encaminhada ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e está sob análise técnica desde junho de 2025.
A expectativa é receber R$131,4 milhões em recursos a fundo perdido, um tipo de financiamento público que não precisa ser devolvido. Até o momento, porém, o resultado dos projetos contemplados não foi divulgado pelo governo federal.
Durante a conversa, o professor destacou diversas frentes que podem prejudicar as cidades caso o Parque Inundável não saia do papel, incluindo o impacto econômico que uma crise hídrica pode causar aos municípios caso não haja planejamento adequado e rápido para garantir a disponibilidade de água.

“Se você não consegue gerenciar a água e não consegue ter disponibilidade hídrica, coloca em risco todo o restante. Existe uma importância econômica nisso e uma segurança econômica para o futuro dos dois municípios”, afirmou o oceanógrafo.
Schwingel também ressaltou que o Comitê Camboriú, idealizador do projeto do Parque Inundável, tem ficado de fora das reuniões entre os municípios, principalmente nas últimas negociações entre as prefeituras de Camboriú e Balneário Camboriú, e reforçou: “Nós não temos nenhum interesse em ter o protagonismo ou sermos donos da ideia, mas sim que ela seja efetivada e realmente saia do papel para não colocar em risco a economia dos municípios.”
Ainda em seu relato, o oceanógrafo explicou que os dois municípios dependem desse projeto para garantir a economia futura. “Às vezes, escutamos das duas prefeituras que investimentos maiores em projetos novos estão sendo feitos tanto para Camboriú quanto para Balneário Camboriú, mas nenhum projeto vai à frente se você não cuidar da água”, completou Paulo.
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Mais pessoas e menos água
O professor também explicou o motivo de uma possível crise econômica atingir os municípios, citando um estudo realizado na Univali que aponta uma demanda hídrica maior do que a disponibilidade. Ou seja, consome-se mais água do que há disponível para uso, devido ao crescimento populacional e à urbanização acelerada nas cidades.
“Havendo algum período de seca, como aconteceu em 2019, por exemplo, vai haver racionamento de água!”, explicou. Ele também destacou que as cidades vivem uma boa sequência de chuvas, especialmente no período de 2023-2024, garantindo o abastecimento atual, mas isso não elimina o risco futuro, e alertou: “Em qualquer momento que ficarmos um período maior sem chuvas, três ou quatro semanas, podemos ter risco de falta de água nos municípios.”

O professor ressaltou que empresas podem ter papel importante para a efetivação do Parque Inundável, destacando que a pressão sobre o poder público pode beneficiar os próprios negócios, já que a segurança hídrica é fundamental para moradores e empreendedores. “A construção civil, ao investir num projeto como este, está investindo no seu próprio negócio. A EMASA e a Águas de Camboriú, investindo num projeto desses, também estão investindo no próprio negócio. Garantir segurança hídrica é garantir o valor do prédio ou apartamento que está à venda”, afirmou.
Importância da participação do Comitê no projeto
O professor também defendeu a importância da participação do Comitê Camboriú na resolução dos problemas do Parque Inundável, ressaltando que o grupo é formado apenas por voluntários e não tem ligação com a política. Na visão dele, o comitê pode contribuir no diálogo entre os municípios e atuar como mediador de conflitos.
“Podemos mediar essas conversas entre diversos setores e, fazendo esse papel, o comitê pode fazer as fases avançarem com maior rapidez. Mas, no momento, o Comitê Camboriú foi deixado de lado, principalmente nas decisões mais recentes sobre encaminhamento de recursos do PAC e reuniões técnicas entre as prefeituras.”
Resposta do prefeito Leonel Pavan
O prefeito de Camboriú, Leonel Pavan, respondeu: “Sabemos que, se não for feita esta obra, Balneário Camboriú vai ter problemas em poucos anos.” Ele também destacou que reconhece a importância de o Comitê acompanhar o desenvolvimento do projeto e afirmou que as reuniões que ocorreram tiveram como objetivo enviar o projeto para o PAC. “Os projetos não estão parados, estão sendo analisados em Brasília”, disse Pavan.

